Produtores de ovinos protestam em São Domingos e exigem medidas para combater língua azul
Perto de meia centena de produtores de ovinos e bovinos protestaram hoje, em São Domingos, para exigir do Governo a implementação de medidas de combate à doença da língua azul que está a afetar dezenas de explorações no litoral alentejano. Durante a concentração, que durou perto de duas horas, no largo de São Domingos, no [...]
Perto de meia centena de produtores de ovinos e bovinos protestaram hoje, em São Domingos, para exigir do Governo a implementação de medidas de combate à doença da língua azul que está a afetar dezenas de explorações no litoral alentejano.
Durante a concentração, que durou perto de duas horas, no largo de São Domingos, no interior do concelho de Santiago do Cacém, os produtores queixaram-se da falta de informação e de ajudas das autoridades competentes para fazer face à mortandade de animais nas explorações, à vacinação e prevenção contra a proliferação do novo vírus.
“O principal problema é a falta de apoio, porque as doenças aparecem, há que preveni-las antes e as [autoridades] deviam estar atentas. Recebem informações da União Europeia sobre o vírus para se poderem prevenir”, criticou Arménio Pinela, produtor de ovinos há mais 20 anos.
Em setembro de 2023 "fomos alertados que o vírus estava na fronteira a chegar a nós, ninguém fez nada, ninguém se preveniu. Um ano depois, voltamos ao mesmo, não há vacinas, ouvimos dizer que afinal há vacinas, não foram requisitadas, afinal onde está a verdade", questionou.
Com “46 ovelhas mortas” e “perto de 400 doentes”, num rebanho de cerca de 700 efetivos, o produtor pecuário, que tem uma exploração em São Domingos, pede para ser ouvido pelos dirigentes nacionais.
"Precisamos que os nossos dirigentes nos oiçam, façam alguma coisa por nós porque precisamos de ajuda. Há pessoas que vão ficar com os rebanhos reduzidos e depois como é que recuperam", lamentou, acrescentando que no litoral alentejano "quase todas as explorações estão afetadas".
Também Maria Odília Matos, produtora de ovinos na freguesia de Abela, disse que aguarda a vacinação das suas 200 ovelhas, apesar de temer que a ajuda chegue tarde demais.
“Fui fazer o requerimento e pagar as vacinas para o meu rebanho de ovelhas", mas a vacina “demora os seus dias até chegar e, depois, quando chegar, se as minhas ovelhas tiverem a língua azul já não podem ser vacinadas, mas já paguei a totalidade, ou seja 550 euros”, relatou.
José Francisco, que gere uma exploração com mais de 300 ovelhas, no concelho de Odemira, no distrito de Beja, um dos mais afetados pelo novo serotipo da febre catarral ovina (FCO), mais conhecida como doença da língua azul, também se juntou ao protesto de hoje, ainda que se mostre resignado com a situação.
“Assim que os animais foram afetados, fui logo à ADS [Agrupamento de Defesa Sanitária], mas ninguém chega ao pé de ninguém, estive sempre sozinho”, lamentou.
Com uma exploração de 500 ovelhas, em Ermidas-Sado, Mónica Silva, está preocupada com o futuro do seu rebanho.
"Já morreram 26 ovelhas e a minha preocupação é que tenham cerca de 200 ovelhas que começam a parir a partir de 15 de novembro e constantemente estou a encontrar fetos delas, porque tenho cerca de 50% do rebanho infetado. Já comuniquei, faço banhos com desinfetante, a medicação, reforço a comida e separo umas das outras", contou.
No protesto esteve ainda presente o deputado do Chega, Pedro Frazão, que lamentou a falta de respostas do Governo para combater a doença.
“Este surto está a preocupar toda a nação, parece que só não está a preocupar as autoridades e quem está na tutela. Pelos vistos, na perspetiva do ministro [da Agricultura] e do secretário de Estado, tudo está a ser feito, mas, quando chegamos aqui ao terreno, o que ouvimos é precisamente o contrário”, afirmou.
Por sua vez, também a vereador Sónia Gonçalves, reiterou que estes produtores "precisam de muita atenção das entidades competentes" e apelou para que o ministro da Agricultura dê "o apoio necessário" a esta atividade "absolutamente importante para a economia do país".
Nesta contestação pacífica, à qual se seguiu uma visita a explorações com efetivos afetados pelo serotipo 3 da doença da língua azul, foi aprovada uma moção que será enviada ao Presidente da República, primeiro-ministro, ministro da Agricultura, presidente da Assembleia da República e grupos parlamentares.
No documento, os produtores de gado ovino e bovino, assim como a população, apelam à tomada de medidas de profilaxia e de terapêutica da doença e defendem que haja compensação económica para as explorações afetadas.
É reclamado que as vacinas, já aprovadas pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, “cheguem em tempo útil às explorações ainda não afetadas”, que o seu preço “seja comparticipado” e que sejam “disponibilizados produtos de desinsetização e de biossegurança”.
Os subscritores da moção exigem ainda que explorações infetadas sejam alvo de avaliação técnica e que exista uma comparticipação terapêutica, pagamento imediato da compensação por cabeça perdida e por cada aborto de animais.
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