A comunidade de Santa Clara-a-Velha, no concelho de Odemira, promove no próximo domingo, durante a manhã, uma manifestação em protesto pelo atual modelo de gestão da água da albufeira de Santa Clara, foi hoje anunciado.

A manifestação “SOS Rio Mira”, organizada por vários elementos da comunidade e do CLARA (Center for Rural Future), quer demonstrar as suas preocupações em relação à escassez de água naquela região e denunciar o modelo de “gestão desadequado” e “controlado pela industria alimentar”.

“A água é um recurso vital e percebemos que há menos água, que chove menos e que a água tem uma gestão completamente desadequada, tem um modelo de gestão privado, controlado pela industria alimentar do litoral” alentejano, explicou Diogo Coutinho, um dos promotores da manifestação.

Enquanto isso, “as populações vão vendo a água cortada, o não abastecimento, cortes no rio, projetos de eucaliptais irrigados fora do Perímetro de Rega, os problemas sociais das estufas e os problemas ambientais, que se vão avolumando, com tendência a piorar porque cada vez vai chover menos e haverá menos água disponível”, sublinha.

Os promotores acusam a Associação de Beneficiários do Mira (ABMira), responsável pela gestão, exploração e conservação da Barragem de Santa Clara, de “negar água ao rio e aos pequenos agricultores para dar a um grupo restrito de grandes empresas que deixam uma pegada social e ecológica insustentável e insuportável para as comunidades e o território”.

“O foco principal é o Governo, que é o único organismo que tem capacidade para mudar as coisas. A ABMira é o órgão executor destas políticas, mas no final é o Ministério da Agricultura que as define”, defende Diogo Coutinho.

A manifestação, marcada para as 10:30, do próximo domingo, arranca no “topo do paredão” da barragem de Santa Clara, num momento simbólico “da passagem da barragem para o rio”, onde será “desenrolada a mensagem SOS Rio Mira – A Água é Para Todos”, que será transportada até ao “espelho de água” de Santa Clara-a-Velha, numa extensão de quatro quilómetros.

No protesto será ainda apresentado um manifesto a exigir a restituição do caudal ecológico para o rio Mira, a gestão pública de um recurso único e comum, alteração nas prioridades de distribuição da água, começando pelo rio Mira, seguindo-se as populações e todos os agricultores sem exceção e investimentos na infraestrutura para a redução de perdas de água.

No documento, os manifestantes exigem ainda maior eficiência no consumo, o bloqueio imediato do plano de expansão das áreas de produção intensiva no litoral e a reabilitação urgente das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) que alegadamente “poluem o rio Mira, em especial a de Sabóia”, no interior do concelho de Odemira.

Segundo Diogo Coutinho, “a ETAR de Sabóia está desatualizada, não funciona e está a descarregar diretamente para o rio. Quando a ABMira cortou a água para o rio que ficou a seco, a única coisa que se via a correr era o esgoto que saia desta ETAR sem tratamento. Como essa há outras que têm um funcionamento medíocre e que precisam de urgente renovação”.

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