O presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), Rui Batista, disse que o avanço das obras de ligação da albufeira do Monte da Rocha, no concelho de Ourique, ao Alqueva vai dar "alguma esperança" aos agricultores beneficiados por estas barragens.

Imagem de Arquivo

"Esta ligação vai-nos permitir ter alguma esperança para o futuro porque vamos numa segunda campanha sem água. Estamos em janeiro e as barragens não mexeram, nem um milímetro, aliás desceram, e portanto a nossa situação em Monte da Rocha e em Campilhas é, de facto, muito complexa", afirmou.

Ao intervir na cerimónia de consignação da obra que vai permitir ligar a albufeira do Monte da Rocha ao sistema do Alqueva, que decorreu no passado dia 11 deste mês, com a presença da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, o responsável afirmou que as últimas quatro campanhas "foram desastrosas", com prejuízos anuais de "cerca de 10 milhões de euros".

"A nossa barragem não descarrega desde 2013, as últimas quatro campanhas foram desastrosas, temos qualquer coisa como um prejuízo acumulado na ordem dos 40, 50, 60 milhões de euros nos últimos anos, cerca de 10 milhões de euros por ano", lamentou.

De acordo com Rui Batista, esta obra "não é importante apenas pela própria ligação", mas porque deveria "ser um paradigma daquilo que deveria ser a política da água em Portugal".

"A região de Campilhas e Alto Sado é verdadeiramente um laboratório vivo, porque antecipa aquilo que vai ser muitas regiões do Alentejo, do Algarve e, infelizmente, também das zonas Centro e Norte daqui a uns anos. Temos ali bem vivo o que significa o impacto das alterações climáticas e, portanto, não temos água e temos a seca a bater-nos à porta", sublinhou.

O investimento, avaliado em 28 milhões de euros e com um prazo de execução de 21 meses, permitirá o reforço à albufeira do Monte da Rocha, que garante o abastecimento público dos concelhos de Ourique, Castro Verde e Almodôvar, assim como parte dos de Mértola e Odemira, todos no distrito de Beja.

A empreitada prevê ainda a criação de um novo bloco de rega com 2.330 hectares, nos concelhos de Aljustrel e Ourique.

Considerando o caso do Algarve, este ano, "absolutamente catastrófico", o responsável lembrou que a região de Campilhas e Alto Sado mantém "as barragens com o mesmo nível do ano passado e de há dois anos", devido ao impacto das alterações climáticas.

"Se nada for feito, as chuvas vão reduzir, e reduzindo as chuvas vamos ter pobreza, inevitavelmente. Começa pelo desinvestimento, a seguir vem o abandono, que em algumas zonas do nosso território já se consegue vislumbrar e, depois, vêm os fogos", alertou.

Na sua intervenção, Rui Batista defendeu a realização de um "estudo integrado" para o aproveitamento dos "excedentes que são lançados para o mar", em zonas onde há défice de água.

"Porque razão não se estuda a possibilidade de muitos dos excedentes que lançamos ao mar, não os podemos canalizar para zonas que têm défice, usando conhecimento da engenharia e da nossa academia. Porque é que não se faz esse estudo integrado", questionou.

E usou o exemplo do Alentejo para defender a necessidade de "interligar as nossas barragens a outras fontes com mais água", como sendo "a única forma de salvar aqueles territórios".

"Estou absolutamente convencido que estender este exemplo do nosso território ao país, seria a forma de salvar muitos dos territórios que estão em crise", como o Algarve, precisou o responsável que, no final da sua intervenção, desafiou o Governo a avançar com a obra de ligação da barragem de Campilhas a Alqueva, antes das eleições de março.

 

 

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