ENTREVISTA: Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines
Com o início de mais um mandato, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, traçou as prioridades do executivo socialista, apontou um prazo para concluir as grandes obras iniciadas no anterior ciclo autárquico e falou dos investimentos previstos para o concelho. Quais são as prioridades para este mandato? Nuno Mascarenhas : As prioridades são [...]
Com o início de mais um mandato, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, traçou as prioridades do executivo socialista, apontou um prazo para concluir as grandes obras iniciadas no anterior ciclo autárquico e falou dos investimentos previstos para o concelho.
Quais são as prioridades para este mandato?
Nuno Mascarenhas : As prioridades são acima de tudo terminar muitas das obras que foram desenvolvidas no último mandato. Temos que aproveitar da melhor forma possível o Quadro Comunitário que está encerrado, o Portugal 2020, e, naturalmente, preparar a estratégia para o Portugal 2030. Grande parte das obras atrasaram, muito motivadas pela pandemia e é certo que este é um tema que ainda não está descartado, ou seja, temos de continuar a estar atentos ao desenvolvimento da pandemia no nosso país e Sines não será alheio a essa evolução, temos de manter a vigilância e tomar as medidas necessárias a cada momento, de forma a evitar situações críticas como tivemos nas anteriores vagas. Além disso, queremos criar condições para que Sines tenha alternativas face aquilo que são as perspetivas a nível nacional e mundial de alteração de paradigma, motivadas pelas alterações climáticas e aquilo que é a transição energética que vai ser feita nos próximos anos. Estamos a trabalhar com um conjunto de entidades para encontrar alternativas às atuais indústrias. O caso que aconteceu com a Central Termoelétrica não pode voltar a acontecer, ou seja temos de estar preparados e aí o Governo tem uma palavra a dizer nesta temática. Esse trabalho tem estado a ser feito com as várias empresas do Complexo Industrial e Portuário de Sines de forma a que os impactos de um futuro, que não será exatamente igual aquilo que foi o passado recente, possam estar acautelados, não só do ponto de vista dos trabalhadores, como também da própria economia da região.
O nível de execução foi baixo?
Digamos que o nível de execução ficou aquém daquilo que eram as nossas expectativas. Nestes últimos meses temos recuperado essas taxas de execução, as coisas estão a correr dentro da normalidade, temos um conjunto de obras que estão em vias de estar concluídas e isso é importante para que consigamos fechar o mais rapidamente possível este Quadro e aproveitar as verbas disponíveis no próximo Quadro Comunitário. Aliás, esse trabalho tem estado a ser desenvolvido já há algum tempo. Ao contrário do que foi o Portugal 2020 neste momento estamos muito melhor preparados para enfrentar o próximo Quadro Comunitário, uma vez que temos em carteira algumas dezenas de projetos que de um momento para o outro podem ser lançados e isso faz toda a diferença.
Mas quando se diz que o nível de execução ficou abaixo das expectativas refere-se a quê?
As expectativas eram termos um conjunto de obras que ainda estão em execução, já concluídas no ano de 2020. Todos sabemos que as obras causam impactos negativos quando são feitas no coração das cidades, aldeias ou vilas, isso aconteceu connosco com algumas dessas intervenções e queremos concluir o mais rapidamente possível, tendo em conta que algumas dessas obras são importantes para pôr ao serviço da população. Falo concretamente da rua Marquês de Pombal, mas também muitas outras que também atrasaram, fruto da pandemia. Naturalmente estamos a procurar junto dos empreiteiros concluir essas obras que são importantes para a população. Recordo essencialmente o Centro de Dia de Porto Covo, que é uma obra que julgamos que até ao final do ano deverá estar concluída, a ampliação da Zil 2, a EB da Quinta dos Passarinhos, conseguimos que abrisse para que os alunos iniciassem o novo ano escolar, mas há ainda que concluir o Pavilhão Desportivo, e mais algumas obras que temos neste momento em fase de execução que vamos procurar acelerar ao longo dos próximos meses.
Sobre a obra da rua Marquês de Pombal o que pode assegurar em relação ao prazo de conclusão?
É de facto a grande obra que queríamos ter pronta há mais tempo. Infelizmente o único empreiteiro que concorreu ao concurso público não conseguiu cumprir com aquilo que estava contratualmente acordado. Aprovamos recentemente a cessação da posição contratual e isso fará toda a diferença. Julgamos que nesta primeira fase, até ao hotel, estará concluída até ao final do ano com algumas correções e, logo que esta fase esteja concluída, iniciaremos a restante até ao estacionamento da Fripex. É uma obra que tem dado muito trabalho fruto do incumprimento com as obrigações contratuais.
E a obra da Praça da República?
Em relação à Praça da República temos uma reunião agendada com o empreiteiro de forma a perceber se tem condições para dar continuidade à adjudicação que já foi realizada, uma vez que entre a adjudicação e o início previsível da obra, entre o final deste ano e início do próximo, há aqui um hiato de tempo que tem consequências, quer do ponto de vista contratual quer mesmo da dificuldade que têm tido para garantir os preços com que se propuseram fazer as obras. Portanto vamos analisar e ver se há condições para que essa adjudicação se mantenha.
Também a obra do Mercado Municipal continua por concretizar. Qual o ponto de situação?
O concurso está a decorrer neste momento. Houve já algumas prorrogações por forma a conseguir dar os esclarecimentos que as várias empresas têm solicitado e julgamos que há condições para que a obra seja adjudicada até final do ano, porque tomamos uma decisão de aumentar substancialmente o preço-base do concurso que ronda os 2,3 milhões de euros de forma a que o projeto tivesse uma atualização do preço contratual, tendo em conta as dificuldades em encontrar materiais de há dois ou três anos.
E a obra do Canil Municipal ?
A empresa que estava com a adjudicação desta obra foi a mesma do Mercado Municipal que entrou em insolvência e vamos repetir esse concurso. Estamos a atualizar as peças do concurso, de forma a atualizar o preço, e vamos em breve lançar o concurso para terminar essa obra que é importante tendo em conta aquilo que foi a nossa proposta não só para combater as matilhas que temos no nosso concelho como também o conjunto de situações que encontramos ao longo dos últimos anos e que queríamos sanar. Isso não impediu que tivéssemos feito um trabalho ao nível do Gabinete Veterinário no sentido de acolher alguns animais abandonados.
Em termos de obra lançada e não feita no anterior mandato, corremos o risco de terminar o atual mandato sem que elas estejam concluídas?
Não corremos esse risco, independentemente, do valor que tenhamos de atualizar dos concursos, estou em crer que a meio do mandato estas obras, principalmente o Mercado Municipal e a Praça da República, têm condições para estarem concluídas, mas obviamente vai muito depender daquilo que for a conjuntura nacional e internacional, uma vez que sabemos que neste momento há preços das matérias-primas que estão a subir entre 30 e 80% e isso é algo que não conseguimos controlar. Estamos atentos e vamos lançar os concursos de forma a que os preços sejam realistas e possa haver adjudicações.
Quanto ao Observatório do Mar, como está a decorrer essa obra?
Está a andar, dentro daquilo que era a nossa perspetiva, com um ligeiro atraso. É uma obra complexa, uma vez que tem em conta a reabilitação de um edifício muito antigo, mas naturalmente o empreiteiro é uma empresa credenciada e com experiência neste tipo de obras e as coisas estão a decorrer com normalidade.
E as obras das estradas da Cabeça da Cabra e do Paiol também são para este mandato?
Sim, conseguimos concretizar um conjunto de intervenções nas estradas e aliás ainda está a decorrer a empreitada de reabilitação das estradas na cidade de Sines, uma obra de cerca de meio milhão de euros. Conseguimos fazer praticamente uma estrada nova de acesso à Ilha do Pessegueiro e também na Ribeira de Moinhos. Neste momento, está em conclusão a atualização do Caderno de Encargos para a estrada da Cabeça da Cabra e a reformulação do projeto da estrada do Paiol. Essas são também obras prioritárias e julgamos que, no início do ano, serão lançados os concursos de forma a termos no próximo ano essas estradas concluídas.
Qual é o ponto de situação da Estratégia Local de Habitação (ELH)?
É um documento estruturante e fulcral para o futuro do nosso concelho. Foi aprovada pela Câmara e Assembleia Municipal e encontra-se no IHRU [Instituto da habitação e da Reabilitação Urbana] para que o mesmo possa ser aprovado e assinado brevemente. Estamos em crer que esse trabalho que demorou alguns meses vai ter frutos a curto-prazo. Independentemente do documento estar ou não aprovado, a câmara tem feito um conjunto de reuniões com um conjunto de entidades que querem investir no concelho ao nível da habitação, inclusive a custos controlados e, a breve trecho, teremos frutos, uma vez que a habitação é um dos pontos fulcrais para o futuro deste concelho, tendo em conta os investimentos anunciados e também aqueles que ainda não foram anunciados, mas que se vão concretizar a curto-prazo.
Qual é o valor que está previsto?
O montante que temos previsto é de 13 milhões de euros, mas é um valor para ser aplicado ao longo dos próximos anos. Não creio que esse seja o ponto principal, o importante é que possamos dar resposta às necessidades de habitação que estão identificadas nesta estratégia, mas ao mesmo tempo conseguir lançar no mercado um conjunto de lotes para que os promotores e interessados em investir no concelho de Sines o possam fazer o mais rapidamente possível.
Do levantamento feito no terreno quais são as necessidades atuais?
Neste momento as necessidades atuais prendem-se com diferentes áreas. Para além de pessoas que necessitam de habitação rapidamente, uma vez que não têm habitação condigna, há uma faixa da população que procura habitação, mas que não consegue devido aos preços que são praticados no nosso concelho. Essa população, diria que da classe média, não tem capacidade para adquirir habitação no mercado. É esse trabalho que estamos a fazer, em conjunto com algumas entidades, nomeadamente, cooperativas, mas também empresas de construção, de forma a que o mais rapidamente possível possa estar no mercado esse tipo de habitação sobretudo focado nas pessoas da classe média, diria que uma habitação a custos controlados onde se possa dar uma resposta a estas necessidades do concelho e que seguramente são muitas centenas.
Mas pode adiantar o número de fogos previstos nesta estratégia?
Neste momento, há um conjunto de fogos que estão previstos para construção que vai depender muito daquilo que for a oferta por parte dos privados. Ainda não temos o documento assinado e aprovado por parte do IHRU.
Preocupa-o a especulação imobiliária?
Preocupa-me a especulação, mas tenho noção que deriva do facto de Sines ser um concelho muito procurado. Se por um lado me preocupa essa especulação, por outro lado fico satisfeito que continue a existir esta procura. O que estamos a fazer neste momento é criar condições para que os preços possam baixar do, de certa forma, que o mercado, não só do arrendamento, mas também para aquisição de habitação, possa ter uma dinâmica muito diferente daquela que teve nos últimos anos.
E os mais necessitados? Os focos existentes no concelho ficam resolvidos com a ELH?
Esses focos estão precisamente identificados na ELH que visa sobretudo encontrar soluções para essas pessoas que mais necessitam. A ELH está muito focada para aqueles que mais necessitam de habitação, a estratégia do município é muito mais ampla do que isso porque temos a necessidade de colocar no mercado uma oferta para uma classe média a curto-prazo dessa resposta.
Já vamos atrasados a esse nível?
Reconheço que, do ponto de vista da Estratégia Nacional de Habitação, já vamos atrasados porque não era possível encontrar financiamentos para estas áreas no passado recente. Felizmente o Governo optou por encontrar, no âmbito do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], um conjunto de verbas para aplicar na construção de habitação e os municípios têm de aproveitar essa oportunidade. Veio tarde, mas mais vale tarde do que nunca.
E quanto a investimentos? A CDU diz que é apenas propaganda e que os investimentos não saem da gaveta.
Obviamente que não vou responder à CDU porque a questão da propaganda tem muito que se lhe diga e o nosso foco é encontrar soluções para que o desenvolvimento económico de Sines seja cada vez mais uma realidade. Temos investimentos privados a acontecer, como sabemos, existem neste momento dois hotéis que estão numa fase muito adiantada de execução, portanto a estratégia turística para o concelho vai dar bons resultados a curto-prazo, não é propaganda. Aliás, temos tido muitos contactos nesta área para investimentos turísticos, nomeadamente, hoteleiros. Do ponto de vista das atividades desenvolvidas tanto na ZILS [Zona Industrial e Logística de Sines] como no Porto de Sines há claramente uma intenção por parte das entidades que gerem essas áreas de investir e incrementar essa atividade económica. O que está a acontecer no Porto de Sines é notório com a ampliação do Terminal de Contentores e a construção do quebra-mar, não é propaganda é uma realidade. O próprio Porto de Sines colocou em concurso público a concessão do antigo terminal que servia para descarga de carvão, é também uma realidade e depois temos por parte da ZILS, gerida pela aicep Global Parques, um conjunto de investimentos que já foram anunciados, como é o exemplo da Repsol, não é propaganda, é uma realidade. Estamos a negociar com um conjunto de outras entidades investimentos no nosso concelho, na área digital, como sabemos o ‘Data Centre’, anunciado há pouco tempo, é uma realidade que está em fase de preparação. Estamos a acompanhar e a ter reuniões quinzenais para que o projeto seja uma realidade e possa ser lançado já em 2022. Tivemos o exemplo do cabo submarino que foi lançado e está concluído da EllaLink que é uma grande mais valia para o nosso concelho. Vamos ter outro cabo submarino brevemente, uma vez que estamos em reuniões com outro promotor que visa a construção de um novo cabo submarino que ligará África a Sines e depois há todos os investimentos anunciados e que são complementares aos grandes investimentos que se vão realizar em Sines, nomeadamente, o investimento em hidrogénio, a própria EDP já anunciou que vai construir um Laboratório de Investigação na zona da antiga central. Temos também a perspetiva que a própria Galp consiga concretizar o conjunto de investimentos não só na área do hidrogénio, como também noutras áreas e esse é um assunto que nos preocupa face aquilo que está a acontecer a nível mundial da transição energética que os próprios combustíveis fósseis possam vir a ter um menor consumo e, como tal, é importante que empresas como a Galp encontrem alternativas. É isso que queremos e é isso que estamos a fazer de forma a que sejam encontradas alternativas aos combustíveis fósseis e que esses investimentos possam ser feitos em Sines. Isso é uma forma de continuar a garantir os postos de trabalho e ao mesmo tempo gerar riqueza no nosso concelho. Ao nível dos grandes investimentos as perspetivas são muito boas para o concelho de Sines, quer do ponto de vista do hidrogénio e dos investimentos na produção de energia a partir de fontes renováveis, como a eólica e solar. Nos próximos tempos serão anunciados alguns desses investimentos que são importantes para o concelho.
Isso significa postos de trabalho?
Significa nalguns casos postos de trabalho, mas acima de tudo garantir que Sines continua a ter um papel importante no processo energético do país do, dessa forma, ser um pólo que continua a ter os olhares de muitos investidores internacionais. Isso é importante porque gera riqueza e pode trazer um outro nicho de empresas para o nosso concelho.
Vão ser construídos dois hotéis e o presidente diz que há uma estratégia turística para o concelho que vai dar resultados a curto-prazo. E um parque de campismo é difícil concretizar na cidade de Sines?
Não, já temos quatro parques de campismo a funcionar no concelho de Sines, inclusive o parque de campismo de São Torpes que sofreu nos últimos meses um investimento importante de forma a adequá-lo a um parque moderno, neste caso de 3 estrelas. O parque de campismo de Sines é um problema que há muito temos tido, uma vez que é um investimento privado, e como sabemos não é o município que gere o dinheiro dos privados. Tivemos toda a paciência do mundo no sentido de perceber as dificuldades que o investidor teve ao longo destes últimos anos, mas julgamos que, de acordo com as últimas indicações, o parque de campismo tem todas as condições para reabrir no verão. Não é uma decisão nossa, nem depende de nós, mas se tal não vier a acontecer a câmara irá tomar as medidas que considere mais apropriadas, de forma a que esta ‘novela’ finalmente termine.
Que medidas são essas?
Todas as medidas que estiverem ao nosso alcance de forma a que ou o parque fique concluído no curto-prazo ou a câmara irá agir da forma que considere mais importante para defender os interesses do concelho e neste caso da cidade.
E uma Zona Franca em Sines. Sim ou não?
Esse é um processo que já está a ser estudado há muito tempo pelas diferentes entidades, Comunidade Portuária, Porto de Sines, aicep e Câmara Municipal. Brevemente vamos ter mais uma reunião para abordar o estudo que já está executado do, em face das orientações daquilo que for o estudo, essas entidades irão tomar uma posição pública, em sintonia com o Governo, para percebermos de que forma esse investimento pode ser feito e de que forma pode ser uma alavanca para a dinamização económica, não só da área portuária como da área logística de Sines.
Mas não estamos a falar de uma zona franca tal como conhecemos ?
Não, não é uma Zona Franca como temos por exemplo na Madeira, mas uma zona que permite a vinda de empresas estrangeiras de forma a que tenham a mais-valia de estarem localizadas num local onde podem, por exemplo, fazer montagem de componentes e depois exportar, é uma zona que terá características muito próprias. Não estamos a falar de benefícios fiscais, não é isso que está em causa, mas preparar o território para receber outro tipo de empresas e, desta forma, alavancar todo este potencial que Sines tem para o futuro.
E quando é que a gestão da avenida Vasco da Gama passa para a alçada da autarquia?
A avenida Vasco da Gama é gerida pela Câmara já há alguns anos, é uma parte importante da cidade de Sines. A parte ribeirinha da praia Vasco da Gama é gerida pela APS. Há algum tempo que estamos a negociar a transferência dessa praia para a gestão do município, o que faz sentido a curto-prazo. Com essa passagem faz todo o sentido ter um investimento integrado de forma a dinamizar aquela avenida. Não queremos transferir todo o comércio para a avenida, mas que seja uma alternativa importante. Estamos a negociar com a APS de forma a que, no próximo verão, seja possível que a gestão já esteja do lado do município e, naturalmente, que vamos investir na avenida de forma a ter ali mais alguns pontos importantes para que as pessoas possam usufruir desta baía que é fantástica. Este investimento faz parte de uma estratégia para a dinamização turística desta frente ribeirinha. Não é por acaso que estamos a construir o Observatório do Mar e temos o Parque Arqueológico Subaquático em desenvolvimento, mas são equipamentos que estão a ser desenvolvidos, vão demorar ainda algum tempo e julgamos que os investimentos previstos para esta avenida serão impulsionadores do turismo.
Portanto, até ao verão teremos a zona ribeirinha sob a alçada do município?
Se conseguirmos fechar o acordo com a APS é natural que até ao verão já tenhamos algo de forma a animar aquela zona da cidade, aliás que nunca deixamos de o fazer não só com a realização das Tasquinhas, como do FMM [Festival Músicas do Mundo] e eventos desportivos. Vamos continuar a dinamizar aquela zona da cidade tendo sempre o foco que é importante dinamizar, mas não descurar aquilo que é o mais importante, que é o coração da cidade.
Mas o que está a impedir esse acordo ?
Tem a ver com um conjunto de investimentos que são necessários fazer. Não vimos necessidade de acelerar este processo até porque a câmara no âmbito das competências que foram atribuídas ao município recebeu o conjunto das outras praias. Foi um processo trabalhoso, mas que neste momento está finalizado. Achamos por bem não acelerar este processo e procuramos aprofundar melhor este tema de forma a que as coisas estejam perfeitamente definidas quando o acordo for assinado.
E quando falamos da zona ribeirinha está apenas incluída a praia Vasco da Gama?
Não, o que está em cima da mesa é não só a praia Vasco da Gama, como também a zona junto ao pontal e isso será objeto de um acordo que esperamos venha a acontecer a curto-prazo.
Este executivo tem sido bastante criticado pela falta de limpeza urbana e de manutenção dos espaços públicos. Reconhece que existe esse problema e o que vão fazer para alterar ?
Penso que é um problema que tem sido resolvido nos últimos tempos, ou seja temos a consciência que há dois, três anos esse era um problema grave. Temos vindo a investir na melhoria de alguns aspetos que os trabalhadores da autarquia não conseguiam dar resposta. Recordo que a câmara adjudicou, nos últimos anos, prestações de serviços no sentido de fazerem a limpeza desses mesmos espaços. Não é fácil encontrar empresas na região que possam dar resposta a estas necessidades do município. A última empresa que teve o concurso anual de limpeza dos espaços públicos era de Loulé, portanto vinham semanalmente trabalhar para o concelho de Sines o que também cria dificuldades. Não é pela câmara investir mais que os resultados são mais satisfatórios …
E por que razão a câmara não tem serviços para garantir esse trabalho?
Porque é difícil na região em que vivemos ter trabalhadores que queiram ganhar praticamente um pouco mais do que o ordenado mínimo, em condições que sabemos que nem sempre são as mais satisfatórias. É um trabalho exigente e que não está ao alcance de todos porque os vencimentos são muito abaixo daqueles que são praticados na nossa região. Os vencimentos dos trabalhadores da autarquia deveriam subir de forma a que fosse muito mais fácil contratar funcionários e isso é um problema que se tem vindo a agravar nos últimos anos. Por isso, estamos a tentar encontrar soluções, através da adjudicação a empresas exteriores para dar resposta à questão da limpeza e dos espaços verdes.
A autarquia está a fazer um investimento para embelezar a entrada de Sines. O que está ali a acontecer?
Ao longo dos últimos anos temos tido a preocupação de realizar projetos que pudessem garantir financiamento comunitário e desta forma evitar o esforço acrescido por parte da autarquia, mas ao mesmo tempo fazer pequenas intervenções importantes, diria que não apenas obras de proximidade, mas que criem outro ambiente não só nos bairros como na entrada da cidade. Fizemo-lo na Zil 1 e no Bairro do Farol, na Quinta dos Passarinhos, que sofreu uma intervenção profunda, e estamos a desenvolver alguns trabalhos na entrada de Sines com a criação de um separador que dê outra dignidade. Além disso, estamos a construir uma rotunda, numa obra feita por um escultor, que quer dar a conhecer a quem entra em Sines um monumento alusivo a Vasco da Gama e que é um complemento à estratégia que temos tido nos últimos anos, não só de dar maior ênfase aquele que é o filho da terra mais conhecido de todos, não só na região como no Mundo, e era importante ter não apenas a estátua junto ao Castelo mas ter algo que identificasse esta terra como a terra de Vasco da Gama. Vamos também lançar muito rapidamente a segunda rotunda junto ao Bairro Dom Pedro, depois de o concurso ter sido anulado por dificuldades do primeiro classificado em dar resposta. Queremos dar um embelezamento à cidade e ao concelho.
Qual é o prazo de execução e qual o investimento previsto?
A rotunda em si teve um investimento de cerca de 100 mil euros e a peça que irá ser colocada no centro da rotunda é de 40 mil euros. Julgamos que, até ao final do ano, esteja concluída e que possa ser apreciada por quem entra em Sines e dar uma dignidade aquela entrada.
Recentemente foi lançada uma plataforma para ajudar o comércio local. É um passo em frente no apoio aos comerciantes do concelho?
Sim, esse é um trabalho que está a ser feito há muito tempo. Desde abril, maio do ano passado que estávamos a preparar este programa que tem como lógica o apoio ao comércio local, embora tenha sido criada uma associação para defender os interesses dos comerciantes, que tem sido um parceiro importante na dinamização desta atividade que o município lançou e que seguramente vai dar frutos. Foi feito um cartão que foi enviado para todos os lares do concelho, com o objetivo de dar benefícios a quem comprar no comércio local. Para além disso, foi criada uma plataforma que está online onde todos os comerciantes e empresários aderentes vão ter os seus produtos expostos. Esperamos que venha a ser um sucesso e que todos os cidadãos, não apenas de Sines como da região possam aderir.
Sines já anunciou datas para o Festival Músicas do Mundo em 2022. Que formato está a ser pensado?
Estamos a ter algum cuidado de forma a que se possa evitar problemas maiores se o festival vier a acontecer. Acreditamos que em julho a situação da pandemia estará bem melhor do que a situação atual na Europa e no mundo, mas vamos ter de ter alguma prudência porque os números atuais não são animadores. Se esta situação se mantiver é natural que o festival possa estar em causa. No entanto, aquilo que está a ser preparado neste momento são zonas mais restritas, ou seja, com menos público para acompanhar os concertos. Mas, como digo, estamos ainda numa fase muito prematura, é difícil com tantos meses de antecedência dizer como vai ser o festival do próximo ano, até porque é um evento diferente de todos os festivais. É um festival que recebe pessoas de todo o mundo, é um festival que é feito com músicos que vêm dos cinco cantos do mundo e se tiverem em causa questões relacionadas com a pandemia mais vale se calhar não fazer o festival do que estar a restringir o contacto direto com os músicos. Vamos ponderar, analisar e quando houver novidades, divulgaremos.
Isso significa que se não se conseguir fazer no formato que é conhecido, o FMM pode não se realizar?
O formato nunca será muito diferente daquele que tem sido feito ao longo dos anos. Poderá haver necessidade de ter menos público junto dos palcos, isso é um dado adquirido. No entanto, o formato não será muito diferente porque não conseguimos ter um FMM no Castelo com 500 ou 1.000 pessoas como no palco da Avenida Vasco da Gama é impensável restringir para um número muito mais reduzido de pessoas. Vamos analisar e se estiver em causa o formato atual do festival dificilmente ele se realizará no próximo ano.
Como está o processo de transferência da Escola Tecnológica do Litoral Alentejano (ETLA)?
A ETLA sempre esteve em Sines e vai-se manter nos próximos anos. A Câmara de Sines tem apenas 1/8 da escola porque é um estabelecimento que tem dois municípios e empresas privadas. Essa decisão será sempre tomada pelos órgãos próprios, não cabe às câmaras de Sines ou de Santiago definir para onde irá a escola, mas à totalidade dos associados definir onde será essa localização. É um processo que irá seguir a normalidade, estão a ser feitos estudos no sentido de perceber qual a melhor solução e logo que estejam concluídos serão discutidos nos órgãos próprios e tomaremos uma decisão. Enquanto presidente da direção da associação tenho um papel importante, uma vez que a escola tem uma lógica muito própria, obviamente exporei essa minha posição nos órgãos próprios e tomaremos a decisão sem qualquer constrangimento.
Ou seja, está no concelho de Sines e ficará no concelho de Sines?
Sim, nem faria sentido ser de outra forma.
E qual é o prazo para a ETLA sair das atuais instalações?
Neste momento não existe um prazo definido. Esse prazo veio de certa forma do investimento que inicialmente estava previsto pela Repsol. Como sabemos o projeto ‘Aurora’ caiu, surgiu um um novo projeto. Estamos a falar com a Repsol para perceber qual a necessidade e em que prazo, e só a partir daí iremos tomar essas decisões.
Mas todos concordam que deveria sair daquele espaço e encontrar instalações mais adequadas?
Sim, faz sentido. Para ganhar uma dinâmica diferente a escola tem de sair daquele espaço que foi importante no passado e tem um conjunto de mais-valias, mas também tem alguns problemas, uma vez que não são instalações próprias para uma escola funcionar, mas a devido tempo tomaremos essa decisão.
O apoio ao associativismo é para manter?
Sim, é nossa intenção também reformular alguns dos regulamentos de apoio ao associativismo desportivo, cultural e social. A Câmara tem feito um esforço nos últimos tempos de reforçar esses apoios e é nossa intenção que esse reforço continue a existir nos próximos anos. Queremos ter um tecido associativo cada vez mais forte, quer do ponto de vista do número de praticantes, quer da robustez financeira que as associações possam vir a ter nos próximos anos e, por isso, a câmara será sempre um parceiro ativo no sentido de melhorar os equipamentos que são utilizados pelas associações. Não é de facto nossa intenção deixar de investir nessas áreas, vamos fazê-lo num futuro próximo quer a nível da melhoria dos equipamentos que estão no estádio municipal quer nas intervenções que já estamos a fazer no Pavilhão dos Desportos, com a cobertura do piso do antigo tanque que criará um espaço para ser utilizado por várias associações, como as danças de salão, entre outras. Também a intervenção de reabilitação do próprio pavilhão ainda não aconteceu em virtude de estar a ser utilizado para a vacinação, mas logo que seja deslocalizado vamos iniciar essa obra de forma a melhorar o aspeto do pavilhão que tem alguma degradação exterior. Para o estádio municipal estamos a ultimar alguns projetos, no sentido de criar um novo campo sintético para que as camadas mais jovens o possam utilizar para a prática do futebol e há todo um conjunto de investimentos que têm sido feitos em vários equipamentos, no sentido de dar outra capacidade para que os clubes possam ter melhores condições para a prática desportiva e receber outro tipo de eventos como noutros anos.
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